sábado, 3 de março de 2012

Apenas um conto...

NO SILÊNCIO DA MADRUGADA


No silêncio da madrugada fria e escura, tento escutar aquela voz.
Ouço seu murmurar e até o seu pranto soprar de leve em meus ouvidos.
Desconfio do sofrimento que deveras sente.
Sufoco meu pesar e resolvo me entregar...
Como posso saber por que estás a chorar?
Resolvo encontrá-lo. Vou até a madrugada escura para resgatá-lo.
- Aqui é frio e triste, como podes viver aqui? 
Vejo-te na penumbra...
- Porque você não quer vir? Aqui a noite é muito dura. Venha! (eu chamo)
Cheio de desconfiança ele se aproxima. Ainda não posso ver o seu rosto, a escuridão é quase completa.
Apenas uma pequena luz brilha no caminho de volta.
Quando me viro para lhe dar a mão, aquela pequena luz ilumina de leve e enxergo a ferida em seu peito desnudo.
- O que é isso? (eu pergunto) - Foi uma ferida muito, muito profunda que não quer curar. Por isso eu vim parar aqui, nessa madrugada fria.
- E você não quer sair? Venha! Eu vim lhe buscar!
Ele me olhou em dúvida, muito desconfiado por não me conhecer bem.
- Não sei, está frio aqui e às vezes isso ajuda a não sentir dor. E a escuridão me permite não enxergar essa ferida.
- Você quer conversar sobre ela? (Indaguei)
- Não sei.
- Talvez lhe faça bem.
- Mas eu nem lhe conheço, como posso confiar em ti? (ele me perguntou)
- Mas você está aqui só, e com essa enorme ferida no peito! Penso que não é muito importante nos conhecermos! O que importa é que vim até aqui disposta a lhe resgatar, pois já estive aqui certa vez.
- Já esteve aqui? (ele me perguntou surpreso)
- Sim, mas essa é outra história, falaremos depois sobre isso. Porque você não me conta quem lhe causou essa ferida?
- Eu não me lembro! Só sei que dói e vim parar aqui. Perdi-me, nem sei mais de que ou de quem...
- Talvez tenha se perdido de você mesmo. E quem lhe causou isso, eu posso imaginar!
O interessante é que nossos diálogos não eram para lábios e ouvidos. Podíamos escutar um a mente do outro.
- Meu peito dói! Dói! Quero chorar, mas não há lágrimas... Isso é enlouquecedor!!!! Mas é como se uma força me prendesse aqui.
- Você precisa lutar contra essa força e vir comigo! Não vê aquela luz ali no fundo? É a saída! É de onde eu vim!
- E porque você veio?
- Ouvi seu pranto seco.
- Mas poderia ter ignorado...
- Não, não poderia! Era como se eu ouvisse um chamado seu.
- Mas você me conhece?
- Não, mas é como se conhecesse. Sinto que te conheço. É estranho, mas sei que posso tirá-lo daqui.
- Está bem! Mas você cuidará da minha ferida?
- Sim, eu prometo! Vou curá-lo e voltaras a ser quem sempre foi. Não prometo fazê-lo esquecer, a cicatriz permanecerá, mas será apenas uma lembrança vaga e a felicidade voltará a brotar no seu coração.
- Então vamos!
- Me dê a sua mão. A passagem será dolorosa, mas será rápida.
E passamos. Voltamos. Estávamos cansados, então nos deitamos.
Quando abri os olhos, não o vi mais ao meu lado.
O procurei por toda casa silenciosa e calma.
Passei pelo grande espelho da sala e vi a cicatriz... em meu peito.

Louise Hug

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